segunda-feira, 21 de julho de 2008




Por Telga Lima

C a m i l a - a n g ú s t ia - f u m a ç a
Ê x t a s e – I n s ô n ia – I n t e n s a
E x t r a v a g a n t e – E x t r a v a s a r
P a i x ã o – p a s s i v a – p a s s i o n a l
A m a r r a s – A r m a – A m o r
C a mi l a – D u l c í s s i ma – D o l o r e s
D o u r a d a - d u ro – D O R

Camila Lopes saiu da autobiografia ficcional de Clarah Averbuck. O filme tem base nos livros (Máquina de Pimball e Pulo do Gato), e Camila transformou-se em - Nome Próprio - pelas mãos do cineasta Murilo Salles e da atriz Leandra Leal. Deram vida à poesia irreverente e cibernética da menina meiga com ares de diabo. De sua conexão discada viciante e lenta, ela é viciada em uma vida desconectada das regras do manual da “boa moça”, e, sozinha escreve seu destino de frustrações e literatura. Camila é salva pela palavra.
Sinceramente, adorei. O filme é poesia pura. Vou logo avisando que não sei o que pensam os cinéfilos a respeito, nem bisbilhotei os sites por aí pra inteirar-me do quê andam dizendo, pra não influenciar-me sobre...
Ouvi um comentário ali, outro acolá, mas fiz ouvidos surdos.
A personagem é fascinante e o sexto longa de Murilo Salles se enche de palavras na tela que tentamos devorar loucamente. E pra o meu deleite ele exagera nos closes, o que muito me agradou também. De quebra ouvi a singela - ...Vai chover pingos de amor. A vida passa telefono e vc já não me atende mais... E por aí vai (rs). Alguém conhece?
Ah, um detalhe importante que soube é que Viviane Mosé, filósofa e esritora, foi responsável pela edição final dos textos escritos e ditos em off pela Camila no filme. Pra quem não a conhece ela é dona do poema abaixo:

Outra carta(Viviane Mosé)

"Eu não sei se por esse vento frio entrando pela janela ou quem sabe por esse vento frio entrando pela janela ou mesmo por esse aconchego de meias de lãs e esse vento frio entrando pela janela ou por qualquer que seja o que for [eu quero te dizer tantas coisas: Todos os passos que dei um a um [e todas as coisas que passaram e tudo que foi se misturando ao que eu era. Pra você ir sabendo o que sou [posso cantar cada música que ouvi e cada livro e cada bula de remédio e cada rosto e cada tostão emprestado cada choro. Os avisos e as ruas [os andaimes as manchetes os incêndios os sinais. Todas as manhãs. Todos os dias santos. Tudo que me atravessou eu quero te mostrar o corpo que ganhei esses anos os fios e as falhas a voz e o avesso e o tempero e a calma. Quero te contar o silêncio alcançado a custa de guerras e as terras que plantei e os temporais. Os temporais. E os nós na garganta. É maio e eu morro de vergonha de falar de amor. Mas esse vinho quem sabe veio aos verbos mostrar que preciso de sua boca e seu cabelo e seu cheiro e sua mão: eu não sou só verso sou um corpo em lençóis de pele a te vestir como luva. Meu corpo a te vestir como luva. Embriagada de vento e vinho penso na morte e em seu pau duro".

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Cuba, ela é a princesa da casa!


Leio enquanto ela me observa
Ando enquanto ela tenta pegar meu pé
Sento e ela vem pro meu colo
Choro, ela fica quieta e lambe, de leve, a minha mão.
Durmo, e ela? Dorme.
Desperto e ela está á espreita
Aliso seu pêlo, ela se derrete e eu me derreto junto.
Assim é minha pequena persa-linda-Cuba-amor.
Por Telga Lima

Era cinza, de um cinza fúnebre aquela calçada torpe por onde pisavam meus pés.
Descalços, os pés, não apenas os meus pés, mas descalços estavam os meus sentidos, com pisadas que oscilavam, entre o cinza do cimento velho e a bruma que chegava, quase sempre com os tons acinzentados do meu pensar de menina desprotegida, do meu pesar de mulher de poeira cinza claro.
Uma névoa cobria os meus olhos enquanto eu pisava e tentava seguir em frente, sem nenhuma nitidez, sem clareza, sem vislumbrar o outro lado.
Passavam por mim transeuntes que poluíam meus olhos de um colorido mal quisto que me faziam franzir a testa e detestar o colorido que maculava meu semblante de uma cor viva, que eu não desejava ver. Que eu não podia enxergar.
Lúgubre eram as paredes das casas, descascadas e gastas pelo tempo que impiedosamente faz desbotar paredes, que deslustra tudo, rouba o viço que enfeitam as fachadas. O tempo, que deixa á mostra as marcas do cinza, que empalidece, tira o brilho. Por trás das “fachadas”, é sempre o cinza que aparece, com ar sarcástico, risonho, alheio ao colorido em volta.
Meio trôpega ainda sigo virando ruas, pisando calçadas. Ignoro o tempo que se prepara, escurece com cara de chuva, com cara de cinza. É inevitável e os pingos caem e lavam minha pele de menina colorida, que oscila entre tons vibrantes e mornos, que oscila suas pisadas nas calçadas, que oscila entre os transeuntes, que tenta se proteger da chuva, da bruma, da névoa, do cimento velho, do riso sarcástico do tempo que machuca o seu semblante de mulher de poeira cinza claro.
Virei à última rua e já era dia de um vermelho intenso, “Kahlo”.
Virei à última esquina e já era vivo de uma cor “frida”
E fui seguindo em frente.