sexta-feira, 15 de junho de 2018


Por Telga Lima

Não, definitivamente eu não sou isso.
Não sou chão.
Eu não sou realidade, sou fantasia.
Eu não sou real, sou personagem.
Não sou dia, sou escuro, calada da noite, mar revolto, torpe.
Sou tons de cinza, escuro; eu não vejo, tateio.
Sou quem anda apressado por ruelas estreitas enlameadas, aviltado.
Eu, definitivamente não sou brilho, não cintilo.
Sou opaco, frio, indiferente, dissimulado, vão. Água baldia, turva.
Eu sou imaginação, pintura em preto e branco.
Não sou superfície, sou espaço dentro do meu pequeno espaço vazio.
Só sangro, engulo. Engodo.
Definitivamente sem chão.


Por Telga Lima

Era cinza, de um cinza fúnebre aquela calçada torpe por onde pisavam meus pés.
Descalços, os pés, não apenas os meus pés, mas descalços estavam os meus sentidos, com pisadas que oscilavam, entre o cinza do cimento velho e a bruma que chegava, quase sempre com os tons acinzentados do meu pensar de menina desprotegida, do meu pesar de mulher de poeira cinza claro.
Uma névoa cobria os meus olhos enquanto eu pisava e tentava seguir em frente, sem nenhuma nitidez, sem clareza, sem vislumbrar o outro lado.
Passavam por mim transeuntes que poluíam meus olhos de um colorido malquisto que me faziam franzir a testa e detestar o colorido que maculava meu semblante de uma cor viva, que eu não desejava ver. Que eu não podia enxergar.
Lúgubre eram as paredes das casas, descascadas e gastas pelo tempo que impiedosamente faz desbotar paredes, que deslustra tudo, rouba o viço, enfeitam as fachadas e deixam a mostra as marcas do cinza, que empalidece, tira o brilho. Por trás das “fachadas”, é sempre o cinza que aparece, com ar sarcástico, risonho, alheio ao colorido em volta.
Meio trôpega ainda sigo virando ruas, pisando calçadas. Ignoro o tempo que se prepara, escurece com cara de chuva, com cara de cinza. É inevitável e os pingos caem e lavam minha pele de menina colorida, que oscila entre tons vibrantes e mornos, que oscila suas pisadas nas calçadas, que oscila entre os transeuntes, que tenta se proteger da chuva, da bruma, da névoa, do cimento velho, do riso sarcástico do tempo que machuca o seu semblante de mulher de poeira cinza claro.
Virei à última rua e já era dia de um vermelho intenso, “Kahlo”.
Virei à última esquina e já era vivo de uma cor “frida”
E fui seguindo em frente.

terça-feira, 29 de maio de 2018


Foto: site ffffound

Por Telga Lima
Eu mesma me maquio;
Preparo a minha própria comida diariamente;
Tento cuidar de tudo e de todos, mesmo que eu me foda, do verbo ...
Dirijo o meu carro;
Tomo o meu pileque (rsrsrssrsr), nada disso. Dirijo o “meu” carro financiando.
Ponho o meu rímel preto que ainda não é do da Lancôme;
Chego antes;
Estou passeando pouco;
Ando sem treinar, dispensei o personal sem previsão de volta;
Sempre tenho lanchinho na bolsa;
Adoro café: pela manhã, intervalo da manhã, início da tarde, num encontro com amigos, com clientes, na ceia, sozinha. Basta! Está de bom tamanho, mas... "não vou tomar do seu café pequeno"... (pedacinho da letra de uma música que ouço de Zeca Baleiro, indo pro trabalho);
Raramente como frutas frescas: Alimentação errada;
Dou banho no meu gato por que desconfio de Pet shop;
Hoje, tomando mais decisões sem sabê-las certas ou erradas;
Ando abdicando de livros chatos, de pessoas chatas;
Tentando ser eu mesma. Algumas vezes sendo frágil, outras vezes me esforçando para ser forte;
Eu mesma (português correto);
Como ia dizendo: Eu sou eu mesma, a mesma de sempre.
Ainda tiro a maquiagem antes de dormir, mas esqueço dos cremes anti- idade dentro do armário;
Ainda odeio dinâmica de grupo;
Amo filme francês;
Acho que os gatos são os bichos mais lindos, inteligentes e sensíveis do mundo;
Ando acreditando em amizade verdadeira;
Ainda uso óculos de grau (miopia e astigmatismo);
Fechei os olhos para as celulites e a balança. Aguardem o retorno (rsrsr);
Não ando meio desligada como cantarola Mariza Monte, ando totalmente desligada, sorridente, fazendo graça, gostando de rir e ainda assim com dores horrorosas na musculatura das costas por não conseguir relaxar nem com massagem terapêutica;
Eu não consigo pular do barco, ejetar a cadeira;
Só quero mergulhar fundo;
Ter intensidade;
Não posso desistir, já cheguei até aqui.
Não tenho olhado para trás, mas os retrovisores estão lá;
Não posso cagar o layout, está na finalização para ir à pré-produção.
Tenho vontade de sambar;
Ainda ouço Billie Holiday pra dormir e sonata ao luar de Beethovem pra chorar;
Continuo tentando.