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Crédito Imagem: site ffffoun |
Por Telga Lima
Meu peito está vazio hoje. O peito anda apertado. O leão
está dentro da toca e os filhotes estão à solta.
Quero encolher os dedos pra dentro dos sapatos, dobrar o
corpo em posição fetal como num ato de me preparar pra nascer de novo.
Acariciei os gatos do condomínio, no início da tarde, com o
sol ainda quente. Aqueles pelos suaves dos rabos que me rodeavam acalmou o
coração. Rabo de gato é carinho espontâneo para a minha crise existencial vinda
do nada.
Senti falta dos assuntos lapidados de Virgínia, da
inteligência bem humorada de Tácito Costa e dos assuntos que jogávamos fora, no
tempo em que tínhamos tempo de jogar conversa fora e isso salvava as nossas
vidas da mediocridade. Entre livro, café e amenidade voltávamos pra casa muito
mais leves e serenos, diria renovados. Havíamos tomado nossa dose de amizade
pra que começássemos a semana com boas risadas e lembranças. O que nos restava era
uma tenebrosa ansiedade de nos encontrarmos novamente, quem sabe na próxima sessão
de arte das 14, pra ver o filme francês da hora.
Alimentei os gatos com a ração que costumo guardar dentro do
carro, para sacá-la num momento de encontro com as minhas doces crianças felinas
que se juntam a mim para se alimentar de cuidado e carinho. Dou afeto e
recebo uma atenção especial que faz desse instante do dia pra mim, um dos mais
importantes. É a hora que o meu espírito se aquieta de mim mesma.
Hoje o leão está sem juba. Está com os olhos baixos
espreitando tudo de longe e com um certo desdém o que acontece na selva. Ele
preferiu continuar lento e encostar sua cabeça sobre as suas patas cruzadas em
protesto ao desespero que o faz ficar riste e atento o tempo todo.
Hoje eu só quero preguiça pra pôr as ideias em ordem e tentar ouvir
o que tenho que escutar desse meu suspiro profundo que reclama. Quero continuar
na toca, em silêncio.