segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Dica de Filme - "filme de amor".


EXPRESSÃO AMOR

Cão Sem Dono é como um verbo que se conjuga para todas as pessoas.

Por Eduardo de Araújo Teixeira.


Há alguns anos uma amiga mandou um e-mail perguntando se eu conhecia algum filme que tratasse de amor. Ela frisou, não queria uma "comédia romântica", mas um filme de "amor". Fiquei um tanto atordoado, pois foi quando percebi que a maior parte dos ditos “filmes românticos" tratavam, na verdade, da falta de amor, de todos os entraves que no desfecho são desatados e desembocam em um happy end . Mas se fosse hoje, para recomendar um filme que trata do amor, recomendaria Cão Sem Dono , de Beto Brant e Renato Ciasca.

Brant faz um cinema urbano, ágil, inteligente, com personagens jovens e tramas bem construídas. Cão Sem Dono comove o espectador por sua incomensurável tristeza. Beto Brant pôs finalmente de lado a vertigem da periferia, as peripécias da “ação”, o embate verbal que imperava em seus filmes e finalmente mergulhou mais profundamente no sujeito. É um filme sobre uma geração que entristeceu porque não vê muita saída no Brasil pós-tudo. O protagonista Ciro é seu espelho, um tradutor que não traduz, que quase não fala; às vezes balbucia umas palavras em russo (Ah, os angustiados russos!!!). O filme se abre ao espectador com o casal protagonista na cama, onde Ciro vai, sem volteios ou preâmbulos, ser ternamente devorado pela bela e jovem Marcela. Mais do que as idiossincrasias de um adolescente tardio perdido e uma menina linda que modela, -- porque seu grande sonho é viajar (um viajar por viajar, um viajar para conhecer o mundo, um viajar que é para conhecer-se), -- Cão Sem Dono é um filme de amor.

Preste atenção, não é apenas "uma história de amor", mas um filme SOBRE o amor. Amor que na história começa pelo sexo casual. Amor que se espraia pela caridade (recolher o cão vadio). Amor que se expressa em jantares entre pais e filhos. Um amor-amizade, que nasce com o gentil porteiro do prédio. Amor pelo perdão (com o motoqueiro que atropela a sua esposa), amor pela arte (e que não se explica, nas telas pintadas sobre jornais), o solidário amor do cuidar (dos pais e de Marcela adoentada), amor, por fim, que se revela desesperada paixão por Marcela, até seu apaziguamento em ternura no final do filme.

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