Adoro quado ele canta:
todo mundo sabe que esta bela criatura
teve um lar tão lindo e o meu sincero amor
mas a boemia, dela se apoderou
e a coitadinha fracassou
tinha tudo o quanto de mim precisava
carinho, que é bom, não faltava
nunca houve uma zanga se quer
um dia deu adeus e deixou nosso ninho
indo em busca de novos carinhos
que pena, uma linda mulher
teve um lar tão lindo e o meu sincero amor
mas a boemia, dela se apoderou
e a coitadinha fracassou
tinha tudo o quanto de mim precisava
carinho, que é bom, não faltava
nunca houve uma zanga se quer
um dia deu adeus e deixou nosso ninho
indo em busca de novos carinhos
que pena, uma linda mulher
A Edição de fevereiro, da revista Bravo, traz uma entrevista com Luiz Melodia. Imperdível e deliciosa como as músicas do seu novo CD especial MTV.
Abaixo um trecho da entrevista:
Por Armando Antenor.
Se escutasse o pai, não usaria os cabelos à moda dos rastafáris nem os deixaria crescer demais. Não permitiria que marchassem rumo à cintura, como avencas sorrateiras que invadem zonas proibidas. Também não exibiria um figurino tão informal em público, camisetas sem manga, tênis, calças gastas. Estaria invariavelmente de terno, os sapatos brilhando, a barba em ordem, a juba exígua, retraída, submissa. Se escutasse o pai, nem sequer viraria cantor. Seria médico, um humanista estudioso e abnegado. Ou, quem sabe, se tornaria político de renome, já que o pai engrossava a casta dos que acreditam em política. No entanto, como Luiz não resistiu às musas, como abraçou o palco com a sede dos beduínos, deveria se tocar e seguir o exemplo de Jair Rodrigues. Ele, sim, um negro elegante. Um sambista de respeito, que mantém os cabelos impecáveis e não tolera roupas vulgares. A trajetória dos negros, de qualquer negro, é difícil. Há inúmeras armadilhas pelo caminho. Por isso, melhor não dar sopa. Melhor evitar comportamentos que inspirem recriminações alheias. Aposente as gírias, rapaz. Gírias não combinam com um sujeito de bem. Esqueça a cerveja, menino. Bebida em excesso prejudica a voz. O diabo é que Luiz sempre adorou o linguajar das ruas, o diabo é que sempre gostou de cerveja. Começou degustando as baratinhas, que os tios compravam no morro de São Carlos, favela carioca onde nasceu e se criou. Hoje não dispensa as estrangeiras. Às vezes, exagera um pouco. Toma uma, depois outra e mais outra. Qual o problema? Se escutasse o pai, nunca conheceria o frescor que emana das garrafas alemãs, belgas, norte-americanas e holandesas. — Agora veja só o tamanho da ironia. Mesmo sem escutar o pai, acabou por escutá-lo bastante. Tapava os ouvidos para os conselhos de seu Oswaldo, mas não para as músicas lindas que o estivador de origem capixaba insistia em cantarolar. Ô Maura, vem matar minha saudade/ Não tenho felicidade/ Desde o dia em que me abandonou. O próprio Oswaldo inventava as composições numa viola de quatro cordas, talento que logo lhe rendeu o apelido de Melodia. Foi observando o pai que o filho aprendeu os primeiros acordes, às escondidas. Quando Oswaldo caiu em si, o moleque já não se chamava Luiz Carlos dos Santos. Chamava-se Luiz Melodia.
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