segunda-feira, 9 de julho de 2007




E tudo o mais.
Canta, compõe e atua. Ele é puro movimento. Dono de uma energia e de uma poesia que incita o nosso cérebro a revirar-se para pensar na vida, nas grandes coisas da vida.
Suas letras irreverentes e seu jeito autêntico, nos faz gostar de ser brasileiros.
Ele é independente!
Tive o prazer de ver o seu show, recentemente, aqui em Natal, na Capitania das Artes.
Maravilha!
Veja trechos da entrevista com Tom Zé sobre o Cd Danç-Eh-Sá., considerado um dos mais radicais de sua careira.

O ataque sem palavras de Tom Zé, por Sávio Vilella.
Compositor completa 70 anos ainda mais ousado.
O "complicador da Tropicália" completa 70 anos e volta à pauta do dia ainda mais independente e ousado. Debaixo do braço, Danç-Eh-Sá, o disco mais radical de sua carreira que, sem fazer uso de palavras, discute o fim da canção e tenta alcançar os "jovens desinteressados" constatados pela MTV. Fonte usual de polêmicas saudáveis, Tom Zé pergunta: "Chico e Caetano abandonaram a juventude?"

Por que você abandonou a Trama?
Há rumores de que João Marcelo Bôscoli, presidente da gravadora, rejeitou Danç-Eh-Sá.

Não abandonei. Foram alguns contratempos que nos levaram a lançar esse cd fora da Trama. Mas não estou fora, continuo trabalhando com eles. Inclusive, João Marcelo foi a primeira pessoa que imediatamente gostou do disco. Quando mostramos a primeira amostra, ainda bem insipiente, ele vibrou. Continuamos na mesma. A Trama, afinal de contas, não é uma gravadora, é um campo de experimentações.

O CD é uma empreitada bem corajosa. Mas como tudo que pouco se resigna, ele tende a ser um fracasso comercial. Você tem medo disso?

Nós tínhamos medo disso. Mas a vendagem nos shows de lançamento foi impressionante. Eu posso até ter medo, mas não posso deixar de fazer aquilo que acho que deve ser feito. Tive muitas noites sem sono, acordava desesperado certos dias. Era muita incerteza, era uma linguagem musical que não estava devidamente concatenada.

Chegou a lembrar o desespero da época de vacas magras dos anos 70 e 80?

Não, foi outro tipo de desespero. Naquela época eu pensava que estava errado - e devia estar. Hoje, eu posso estar errado novamente, mas eu aprendi que o risco de errar é um prato de doce e a certeza de estar certo é um prato de merda (risos).


O disco não tem letra, mas existe uma lógica nos sons vocais e onomatopéias.

É uma proto-linguagem, de fato não é algo fortuito. Falo, sem palavras, aquilo que está explicado no encarte do disco. O homem primeiro cantou e experimentou vogais e consoantes com toda liberdade antes de construir uma língua. As palavras foram publicamente desmoralizadas, o poder dilapidador da política sobre as palavras foi trágico. Daí minha pilheria de fazer um disco mudo.


No encarte, você diz não acreditar que "a cancão acabou", como declarou Chico Buarque. No entanto, você fez um CD de "descanções", como você mesmo diz.
Deixei de ser compositor. Agora sou um ludositor, que usa os recursos sonoros francamente para uma diversão que não tem mais a função de canção, uma espécie de música de dança-e-jogo. O Chico foi irresponsável, porque disse que a canção acabou e fez um disco de canções.

Sua intenção é alcançar a "juventude hedonista e consumista" que a pesquisa encomendada pela MTV em 2005 constatou?

Vi a pesquisa e pensei: "Vou tentar informar os jovens de que eles fazem parte de uma nação negra". Pelo menos precisam saber que nosso desafio na história não é de espectador. Talvez fosse hora de provocar os principais gênios, de dizer "Caetano, acabe com essa irresponsabilidade, se é que o Brasil lhe interessa". Se eles ainda podem ser grandes líderes e fazem uma música que não pode chegar à juventude, que diabo é isso? Abandonaram a juventude? Chico e Caetano, praticando o dom maravilhoso que têm para fazer música, são socialmente irresponsáveis.

Você ouviu o último cd do Caetano? Estão atribuindo a esse disco uma jovialidade roqueira.

Há um certo frescor juvenil. E talvez ele estivesse preocupado com isso. Como Caetano não gosta de dizer em palavras o que pensa, então talvez até. O disco é lindo, mas é socialmente irresponsável. Cada pessoa pensa o mundo da maneira que ele lhe comove. Mas é caso de construir uma grande frente popular para ir atrás dessa parte da juventude que se separou completamente da realidade fisiológica do Brasil negro. Mas é claro que não vou dar lição em Caetano e nem em ninguém.


”Eu sou político quando eu compreendo que uma pessoa não pode ser feliz se há em volta dela pessoas infelizes”
Tom Zé

Nenhum comentário: