terça-feira, 15 de abril de 2008


Por Edmir Perrotti Professor de pós-graduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

"Nunca falamos tanto, nunca produzimos tanta informação, nunca tivemos acesso a tantos e tão diferentes assuntos com a rapidez que temos hoje, e tudo isso em escala planetária. No entanto, talvez nunca, também, tenhamos vivido uma época tão esvaziada de sentidos quanto a atual, época em que temos a impressão de que se fala muito, mas que se diz pouco, época em que somos bombardeados por informações, mas que, talvez até por instinto de preservação, não prestamos atenção na maioria das coisas que nos são ditas e repetidas uma, duas, três, infinitas vezes. Ou seja, se quem fala não diz , quem ouve não escuta , a comunicação acaba virando um puro gesto mecânico de processamento de sinais e não de trocas efetivas de significados, tal qual na canção Sinal fechado , de Paulinho da Viola".

"Torna-se importante revisitar a Palavra, ressignificá-la nos quadros de nossa contemporaneidade. Não de qualquer forma, de qualquer maneira. É preciso revisitá-la com todas as pompas e circunstâncias indicadas por quem entende do assunto. Drummond é um deles. Aconselha espreitar as palavras, escutá-las, seduzi-las, saboreá-las, mesmo se às vezes o gosto é amargo e a tarefa nem sempre seja fácil. As palavras são opacas, não se entregam nem se iludem com as falsas promessas. Não aceitam ser passivas, usadas apenas para atos de compra e venda, de consumo, de mera negociação mercantil. Elas também nos espreitam, escutam, seduzem, saboreiam. Sob a “face neutra”, escondem, cuidadosamente, tesouros esplêndidos e inesperados, que não são entregues senão parcialmente. Elas são ativas, nos interrogam:

“Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face

neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave ?”
Carlos Drummond de Andrade - A rosa do povo.

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