domingo, 24 de fevereiro de 2008

Eu, Etiqueta

Estava lendo a respeito desta nossa atual e complexa era das aparências, de vaidades e tolices, que tem a publicidade como porta voz do consumismo desmedido, compulsivo, da busca pelo prazer a todo custo, do imediatismo, dos excessos.
Da publicidade que contribui para formar essa cultura hedonista e individualista, que não admite sofrimento, que busca a perfeita estética corporal, que faz com que as pessoas tenham vergonha de sentir dor, vergonha de rejeitar o que é da natureza humana.
Penso sobre o modo de vida que faz com que andemos sempre com muita, mas muita pressa. O objetivo é ganhar tempo. O ideal é que tudo seja muito prático e o interessante é que tudo já venha prontinho, e, se puder fazer tudo ao mesmo tempo, comer enquanto dirige, enquanto fala ao celular, tudo isso para ganhar tempo. Tempo para que mesmo?
Para estar perto de quem se ama, para o convívio com os amigos, com a família, para ficar mais junto?
Um tempo em que é proibido envelhecer, que é proibido lidar com as limitações do próprio corpo. Um corpo que nada mais é do que algo em que se investe para o outro, para ser objeto de desejo.
Uma era que propõe uma vida que não é a nossa, mas uma vida que nos está sendo imposta, sem que tenhamos tempo para avaliar, para reinventar outras formas, outras maneiras que nos possibilite ser desacorrentado deste “mundo de excessos”.
A triste conclusão é que a maioria das pessoas vive um vazio de idéias e crenças, por isso tanta ansiedade, angústia e depressão.
O que pode nos salvar é o exercício da intelectualidade, do conhecimento. É manter os olhares sempre atentos para os princípios morais e éticos. É acima de tudo não deixar-se coisificar.


Eu, Etiqueta - Carlos Drummond de Andrade
Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim-mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para venderem bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam, e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa resumia uma estética? Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrina me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.





sábado, 23 de fevereiro de 2008

"La jeune fille aux cheveux blancs"



"La jeune fille aux cheveux blancs", abre o CD "Le fil", da cantora francesa Camille.
De modo particularmente despretensioso me foi apresentado Camille. Entramos no carro, íamos ao Parque Tanguá – Curitiba, quando um som totalmente desconhecido e muito agradável entra em meus ouvidos. Acolhi-me àquele som meio estranho, muito forte e expressivo, cheio de significado que tentei em vão compreender, pois ainda não entendo francês. Tudo bem, isso não me atormentou nem um pouco. A única coisa que importava era simplesmente ter conhecido a musicalidade de Camille.
Ela já esteve no Brasil, acompanhada pelo grupo Nouvelle Vague, que faz versões em bossa nova para clássicos do punk rock.
Aos 26 e com uma sonoridade estranha ao universo pop, ela lançou dois trabalhos - "Le sac des filles" (2002) e "Le fil" (2005). Eloqüente, Camille afirma: “Uma música só pode existir como resultado de um sentimento verdadeiramente forte. Essa é a minha filosofia".
A quem garanta que ela relembra a personagem interpretada por Brigitte Bardot (em versão morena), na ilha de Capri, sob as lentes de Jean-Luc Godard.
Pra quem quer qualidade sonora, ouça a voz doce e cheia de personalidade de Camille!




sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

CURIOSIDADE


Não jogue fora!
Este é o título de uma matéria bastante curiosa, edição deste mês, da revista "Vida Simples". Está mais do que na hora de mudar hábitos em relação ao lixo que pode ser reciclado, as roupas que podem ser doadas ou customizadas, aos equipamentos eletrônicos que podem ser reutilizados. Reciclar, reparar, reorganizar, reaproveitar, reinventar.
Pense nisso.

Projeto italiano põe em circulação o que antes iria para o lixo
Elisa Correa
Nem tudo o que se joga fora é lixo: muitas coisas que descartamos por falta de uso ou de espaço ainda podem ser utilizadas. Pensando nisso, três estudantes de design em Veneza criaram o projeto Rifiuto con Affetto – “rejeitado com afeto”. Elas modificaram um contêiner de lixo comum colocando prateleiras internas e duas portas transparentes na parte da frente para deixar tudo à vista, como numa vitrine. Lá dentro são deixados objetos, roupas, sapatos que ficam à disposição de quem passa e ganham uma segunda chance ao serem escolhidos por alguém. Já houve quem encontrasse uma impressora em ótimo estado e quem levasse para casa um belo par de botas. Roberta Bruzzechesse, uma das criadoras do projeto, explica o objetivo: “Estimular uma reflexão individual sobre o desperdício, fazer com que as pessoas pensem se acumulam objetos por necessidade ou por imposição da indústria”. A prefeitura apoiou a idéia permitindo que os contêineres fossem colocados em alguns pontos de Veneza, e a população recebeu instruções de como usá-los. Agora espera-se que essas vitrines se espalhem por toda a cidade e, quem sabe, pela Itália. Enquanto a idéia não pinta por aqui, você pode refletir sobre o que anda jogando fora. Será mesmo que não pode interessar a alguém?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ariano Suassuna



Em recente entrevista concedida ao programa “Personalidade” - TV Câmara, o escritor paraibano Ariano Suassuna desabafa sobre o governo Lula, fazendo uma análise positiva de sua gestão, fala sobre o que chama de “lixo cultura”, transmitido pela televisão brasileira. Discorre sobre o que é um Brasil real de um Brasil oficial citando Machado de Assim. É realmente uma entrevista imperdível e que Fernando Monteiro destaca um pequeno trecho, no substantivo plural, que fala sobre a intervenção do exército como "polícia"-repressora da violência nas favelas cariocas. No link pude ver toda a entrevista e transcrevo uma parte em que sabiamente Suassuna fala de utopia e sonho e nos coroa com Fernando Pessoa. Mas, não dá só pra ficar por aí, ele ainda fala sobre globalização, o universo do “homem” sertanejo, cultura erudita e popular.

Cláudio Ferreira - O senhor recorre a um artigo escrito por Machado de Assis em 1870 para falar de um Brasil real e de um Brasil oficial. Essas definições ainda valem hoje em dia?
Ariano Suassuna - Machado de Assis diz que o país real é bom, revela os melhores instintos, mas o oficial é caricato e burlesco. Não sei se fazendo violência ao pensamento de Machado de Assis, identifico o Brasil oficial com as classes privilegiadas e o Brasil real com o Brasil do povo, dessa imensa maioria de despossuídos que, a meu ver, é a fonte da grande esperança que eu tenho no meu povo. Se Machado de Assis fosse vivo, constataria que o país real continua bom, revelando os melhores instintos, e o país oficial ficou ainda mais caricato e burlesco.

Aparecida Nogueira - Você, já na década de 70, com A Pedra do Reino, falava de uma bela utopia, que é juntar todo o povo latino-americano em um só povo. Você vê um esboço desse sonho no governo Lula?
Ariano Suassuna - Recentemente eu li um artigo de um jornalista do qual discordei, acho que quase inteiramente. Ele usou a palavra excremento, por ela mesma e por sinônimos, para definir o Brasil e o povo brasileiro. Acho que no meio tinham umas 10 ou 12 referências ao Brasil e ao povo brasileiro como excremento, como povo vicioso. E no meio havia uma frase em que ele dizia que "utopia" é uma palavra ridícula. Eu vou dizer uma coisa: eu acho que não é, não; a razão manda que a gente se acomode em casa, e o sonho é que leva a gente para a frente.
Existe um poema de Fernando Pessoa que eu não sei se vou citar exatamente, mas, falando sobre D. Sebastião, que era acusado de louco, ele dizia: "Louco, louco, sim, porque quis grandeza como a sorte a não dá. Sem a loucura, o que é o homem? Uma besta sadia, cadáver adiado que procria." Eu achei isso uma beleza.
Então, você veja, em 1970 eu tinha já esse sonho da união da América Latina, que agora estou vendo se esboçar. Estou vendo o Brasil se unir à Venezuela, à Argentina, ao Paraguai, à Bolívia - nunca pensei que em vida ainda eu assistisse a isso.

A CASA DE ALICE




Sábado fui ver A casa de Alice, um longa de Chico Teixeira, que é um retrato real de como vivem muitas famílias brasileiras. Desta vez, contribuí um pouco para incrementar os chatíssimos barulhos dos papéis de balas e da comilança de pipoca. Logo no início do filme dei o tom abrindo minha barra de cereal, que se juntou aos outros sons dos incontáveis saquinhos que se abriam simultaneamente. Só então, me ajeitei na cadeira para acompanhar o filme.
A Casa de Alice não é uma história que faz você sair do cinema com a sensação de ter visto um excelente filme, realmente não, mas vale ressaltar o realismo retratado por Chico, do cotidiano daquela família, que choca por ser revelador demais. Tudo é muito cru: o bom dia dado por obrigação no café da manhã, a falta de educação á mesa, a traição do marido de Alice com uma adolescente que freqüenta a sua casa, o modo deselegante que Alice é tratada pelo marido, a falta de paciência que a família tem com a avó, que é a mãe de Alice e tantas outras situações que o filme mostra.
Na época de seu lançamento, o drama foi elogiado pela imprensa brasileira e aclamado por alguns críticos de cinema nova-iorquino. Jeannette Catsoulis, jornalista do prestigiado The New York Times, não poupou elogios em sua crítica ao longa de Chico Teixeira. Ela define A Casa de Alice como um filme "simultaneamente delicado e realista". A crítica continua: "Focando mais na observação do que na verbalização, ele (Teixeira) simplesmente permite que a abundância de hormônios dos personagens conduza as mudanças".


A Casa de Alice, tem exibição na sessão cult, das 15h00, no Cinemark.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Bizarro Sweeney Todd.




Johnny Depp. Poderia começar falando da estréia de Sweeney Todd marcada para hoje e demasiadamente comentado em todas as mídias, mas não tenho dúvidas de que vocês já tenham devorado todos os tablóides e estejam afiadíssimos, com a sinopse na ponta da língua. Quero sim, citar o imperdível Depp, de quem sou fã incondicional. Relembro aqui Edward Mãos de tesouras, O libertino, Piratas do Caribe e por aí vai. A parceria com Tim Burton vem de longa data. Entre outros filmes com o diretor estão Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, a refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate, a animação A Noiva-Cadáver, e Sweeney Todd - O Barbeiro Demoniaco da Rua Fleet. Segundo o próprio diretor é Noviça Rebelde com sangue. Talvez não seja a obra-prima de Tim Burton, mas independente de qualquer coisa a performance de Depp é sempre um espetáculo a parte. Vamos ver como ele se saiu cantando.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Luiz Zanin - Blog/Estadão

Palavra eterna é o título que abre o rico texto de Francisco Quinteiro Pires sobre os 400 anos de Padre Antonio Vieira, que você poderá ler na íntegra, no site do Estadão.
Sem internet neste carnaval, não pude conferir as dicas do substantivo plural. Acompanhei apenas as notícias pela televisão. Hoje de volta ao trabalho, e ávida por informação encontrei o link que me deu acesso ao texto de Francisco, através do site de Tácito Costa.
Segue um trechinho para você ficar curioso e se aprofundar um pouco mais nesta leitura que vale muito a pena.
“Segundo o professor Francisco Maciel Macedo, existem dois motivos para entender por que Vieira se tornou referência indelével. Primeiro, a engenhosidade do raciocínio - analógica, metafórica, e não lógica. Segundo, o estilo claro e simples, marcado pela oralidade, por repetições e circularidades concêntricas. Essa dupla de elementos, realizados à perfeição nos mais de 200 sermões, está a serviço de Vieira que decifra as charadas dos textos bíblicos (e da realidade terrena) para espanto dos ouvintes da época. E para surpresa dos leitores de hoje - seus escritos de quase quatro séculos podem ser mais reveladores da atualidade do que as notícias do jornal do dia. Antônio Vieira tem a palavra eterna, porque ela se localiza fora no tempo.”

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A VIAGEM DE CHIHIRO


Aqui, entre alguns dos meus colegas publicitários, Chihiro, virou uma festa. Não é pra menos, o filme é uma “viagem”. Hayao Miyazaki é diretor, roteirista também animador, além de desenhar mangas (lê-se mangas, quadrinhos japoneses), muito prestigiado no Japão.
A Viagem de Chihiro ganhou o Oscar de Melhor Animação em 2003, mas independente da premiação, o filme é realmente belo. Um conto que nos leva ao melhor do universo da fantasia, além da qualidade visual, que se distancia bastante da parafernália e outros tantos nada emocionantes efeitos especiais dos filmes hollywoodianos. Tudo no melhor estilo japonês que eu adoro!
A sinopse está longe de explicar toda magia da história e é mais ou menos assim:
Conta à história de uma garota, Chihiro, que vai com os pais a um estranho lugar. Lá eles são enfeitiçados e transformados em porcos, e Chihiro precisa trabalhar para a bruxa dona de lá enquanto acha uma maneira de salvar os pais e voltar para seu próprio mundo. O lugar é uma casa de banhos para deuses (sim, é isso mesmo), e lá Chiriro conhece Haku, um garoto que é aprendiz da bruxa, e que ajuda a menina a se acostumar com sua estranha nova realidade.
A viagem de Chihiro lembra-me quanto passei umas férias em Curitiba e assisti ao filme em uma noite bastante fria, debaixo de muitos cobertores. Boas lembranças. A história me deu uma sensação gostosa de paz e aconchego.
Uma ótima opção pra você que não curte carnaval. Aproveite!

Adriana Lucena



Merecido para nós que amamos essa cidade. O Mercado Municipal de Petrópolis se renova, resgata a sua história e nos oferece Adriana Lucena, chef internacional, especialista em molhos a base de pimenta. Ah, ela é especialista em muitos outros sabores, que você precisa conhecer pessoalmente, na Quinta da Aroeira. O endereço vai estar aí em baixo.
É com um sorriso largo e apimentado, se é que me entendem, que ela nos recebe em seu espaço que, antes de qualquer coisa, é delicioso. Depois de abraçá-la, curta um pouco a loja, escolha o seu chapéu de mestre cuca, você vai se sentir o máximo em sua cozinha. Tem uns estampados com pimenta que é bárbaro e estão à venda. Aproveite também para puxar um papo com Adrina, que tem histórias ótimas pra contar, ricas não só em conhecimentos culinários.
Sem essa de: eca! Se você ainda resiste experimentar, saiba que a substância química que dá à pimenta o seu caráter ardido é exatamente esta que possui as propriedades benéficas à saúde. Além disso, influencia a liberação de endorfinas, causando uma sensação de bem-estar muito agradável, na elevação do humor.
Tem propriedades analgésicas e energéticas, reduz a formação de coágulos no sangue, e estimula a digestão. Então, vai resistir?

Endereço:
Quinta da Aroeira / Mercado Municipal de Petrópolis – Loja: 24
Av. Hemes da Fonseca, 407 Loja
Natal/RN