Em recente entrevista concedida ao programa “Personalidade” - TV Câmara, o escritor paraibano Ariano Suassuna desabafa sobre o governo Lula, fazendo uma análise positiva de sua gestão, fala sobre o que chama de “lixo cultura”, transmitido pela televisão brasileira. Discorre sobre o que é um Brasil real de um Brasil oficial citando Machado de Assim. É realmente uma entrevista imperdível e que Fernando Monteiro destaca um pequeno trecho, no substantivo plural, que fala sobre a intervenção do exército como "polícia"-repressora da violência nas favelas cariocas. No link pude ver toda a entrevista e transcrevo uma parte em que sabiamente Suassuna fala de utopia e sonho e nos coroa com Fernando Pessoa. Mas, não dá só pra ficar por aí, ele ainda fala sobre globalização, o universo do “homem” sertanejo, cultura erudita e popular.
Vejam no assunto principal
Cláudio Ferreira - O senhor recorre a um artigo escrito por Machado de Assis em 1870 para falar de um Brasil real e de um Brasil oficial. Essas definições ainda valem hoje em dia?
Ariano Suassuna - Machado de Assis diz que o país real é bom, revela os melhores instintos, mas o oficial é caricato e burlesco. Não sei se fazendo violência ao pensamento de Machado de Assis, identifico o Brasil oficial com as classes privilegiadas e o Brasil real com o Brasil do povo, dessa imensa maioria de despossuídos que, a meu ver, é a fonte da grande esperança que eu tenho no meu povo. Se Machado de Assis fosse vivo, constataria que o país real continua bom, revelando os melhores instintos, e o país oficial ficou ainda mais caricato e burlesco.
Aparecida Nogueira - Você, já na década de 70, com A Pedra do Reino, falava de uma bela utopia, que é juntar todo o povo latino-americano em um só povo. Você vê um esboço desse sonho no governo Lula?
Ariano Suassuna - Recentemente eu li um artigo de um jornalista do qual discordei, acho que quase inteiramente. Ele usou a palavra excremento, por ela mesma e por sinônimos, para definir o Brasil e o povo brasileiro. Acho que no meio tinham umas 10 ou 12 referências ao Brasil e ao povo brasileiro como excremento, como povo vicioso. E no meio havia uma frase em que ele dizia que "utopia" é uma palavra ridícula. Eu vou dizer uma coisa: eu acho que não é, não; a razão manda que a gente se acomode em casa, e o sonho é que leva a gente para a frente.
Existe um poema de Fernando Pessoa que eu não sei se vou citar exatamente, mas, falando sobre D. Sebastião, que era acusado de louco, ele dizia: "Louco, louco, sim, porque quis grandeza como a sorte a não dá. Sem a loucura, o que é o homem? Uma besta sadia, cadáver adiado que procria." Eu achei isso uma beleza.
Então, você veja, em 1970 eu tinha já esse sonho da união da América Latina, que agora estou vendo se esboçar. Estou vendo o Brasil se unir à Venezuela, à Argentina, ao Paraguai, à Bolívia - nunca pensei que em vida ainda eu assistisse a isso.
Ariano Suassuna - Recentemente eu li um artigo de um jornalista do qual discordei, acho que quase inteiramente. Ele usou a palavra excremento, por ela mesma e por sinônimos, para definir o Brasil e o povo brasileiro. Acho que no meio tinham umas 10 ou 12 referências ao Brasil e ao povo brasileiro como excremento, como povo vicioso. E no meio havia uma frase em que ele dizia que "utopia" é uma palavra ridícula. Eu vou dizer uma coisa: eu acho que não é, não; a razão manda que a gente se acomode em casa, e o sonho é que leva a gente para a frente.
Existe um poema de Fernando Pessoa que eu não sei se vou citar exatamente, mas, falando sobre D. Sebastião, que era acusado de louco, ele dizia: "Louco, louco, sim, porque quis grandeza como a sorte a não dá. Sem a loucura, o que é o homem? Uma besta sadia, cadáver adiado que procria." Eu achei isso uma beleza.
Então, você veja, em 1970 eu tinha já esse sonho da união da América Latina, que agora estou vendo se esboçar. Estou vendo o Brasil se unir à Venezuela, à Argentina, ao Paraguai, à Bolívia - nunca pensei que em vida ainda eu assistisse a isso.
Um comentário:
Como sempre ótimas reportagens ;)
Ariano Suassuna é realmente magnífico, muito como pessoa, o despreendimento ao falar de coisas em tom claro quando se trata de sua opinião é o que mais admiro, passei achar dez essa figura depois da reportagem que deu no programa do Jô, vi como ele demonstrou com suas histórias que não é necessário ser o sabe tudo para escrever bem, na entrevista ele citou o espanto que seus anfitriões tiveram ao ver que ele nunca tinha ido a Disney, Como se a mente deste grande autor não criasse coisas muito mais maravilhosas que uma simples disney.gmail.com
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