segunda-feira, 12 de janeiro de 2009


Por Telga Lima

Vem cá, chega aí, quero lhe contar do tempo que se passou.
De todo o tempo que se passou sem você por perto.
Das duas pimenteiras que morreram na varanda. É elas morreram.
Vem cá, senta um pouco, tira os sapatos, depois você vai precisar deles para partir novamente.
Quero lhe mostrar as lágrimas nos meus lençóis, olha só! Elas ainda não secaram.
Vem cá, toque as minhas mãos, elas ainda estão frias esperando pelos seus dedos quentes.
Tenho tantas histórias pra contar para você, quero lhe mostrar o que andei escrevendo
O quanto cuspi o seu nome, o quanto comi o seu nome, o quanto bebi da sua saliva, enquanto esteve ausente
São tantas cosias:
Meu pranto ao relento.
Dirigi sem direção, sem saber o prumo, o rumo;
Abri portas pra tanta gente estranha entrar e elas acabaram não entrando;
Embriaguei-me de vinho e livros e revirei-me estressadamente na cama por conta do silêncio e do vento quente que entrava pela janela, enquanto o meu corpo permanecia invariavelmente frio, apático.
Vem cá, me toca.
Quero lhe mostrar os músculos que ganhei e os ridículos fios brancos que estão aparecendo, bem aqui.
Nem lhe conto, foram tantas tempestades, achei que não iria resistir ao caos.
Deite aí no chão, vou pôr Cartola na vitrola
Vou pôr canção na casa, ultimamente os pássaros não passam mais por aqui, não pousam mais na janela, não cantam mais.
Quero lhe contar que não fiquei sem sexo, deu pra me virar, mas ouça, fiquei sem aconchego e com muitos nós na garganta.
Não engoli ninguém e creio que ninguém também me engoliu, pode crer.
Deixa eu lhe dizer que além de você outras pessoas me machucaram e me fizeram chorar, desacreditar
Deixa eu lhe dizer que além de você outras pessoas me deixaram, deixaram que eu seguisse só.
Olhe pra mim, não sou um corpo sedento pela sua pegada.
Tenho olhos fundos e quero sua boca, sua vibração, sua energia.
Vem, encoste a sua cabeça no meu peito.
Quero o seu cansaço, seu desencanto.
“É impossível nesta primavera”, Cartola canta na vitrola, rima que outrora ouvi.
Não ria, eu estou sentindo vergonha de falar de amor pra você. É dezembro e quero o remédio que me prometera.
Vem cá ver, minha alma foi jogada ao chão, mas meu corpo ainda está aqui dando sinais de incêndios.
Eu não sei se por essa música
Eu não sei se pela saudade
Eu não sei se pela carência
Eu não sei se pelo avesso
Eu preciso do seu verso, do seu verbo, mas que você vá se misturando a tudo o que eu sou agora.


NOITE DE NATAL

Por Telga Lima

Ela só queria que as luzes todas estivessem acesas e ouvir muitos gritos de crianças pela casa,
Ela queria a casa cheia,
De luminosidade.
Ela só queria a mesa rodeada das pessoas que ela ama e todos os encontros, ali bem diante dos seus olhos.
Ela queria a casa cheia,
Ela só queria que todos os presentes estivessem em baixo da árvore e muitos desejos realizados, de amor.
Ela só queria sorrir e dormir com a esperança de ver todos novamente no próximo Natal, como não fora neste, em que ela não viu quem desejou.
As luzes estavam parcialmente apagadas e o seu coração estava parcialmente encoberto pela saudade.
A casa estava tão vazia e tantos desencontros, ali bem diante dos seus olhos, de desamor.
Não havia árvore, por que não havia presente, não havia nem os risos, nem as luzes, nem a casa cheia, nem todos em volta da mesa, nem os gritos.
Não havia mais sonhos, apenas os dias, e aquele era só mais um.
Havia um olhar pra um futuro incrédulo, meio incerto, demasiado certo.
E então, ela pensou em desistir, mas preferiu esperar as surpresas do próximo Natal e novamente desejou,
Ver quem não viu esse ano
Ouvir seus gritos
Tocar sua mão
E dizer tudo a quem mais gostaria de dizer.