segunda-feira, 26 de maio de 2008


Por Telga Lima.

Leve, muito leve, pneumática e, a vida corre.
Sem um sentido escrito, descrito, script.

Só respiração, sopro no peito, assobio de assobiar.
Levemente repleta, um tanto vazia.
Uma topada num paralelepípedo, em chão mal feito, desalinhado, descascado, desconjuntado
E meu peito ainda assim... leve, pneumaticamente.
Feliz batendo descompassado, passo fora do passo.
Eu por aí, me deliciando desse pedaço mais doce, o pedaço de me sentir leve e me encher de uma sarcástica paz, que me deixa um sopro de soprar, uma topada de acertar, um sentido muito raro de viver.

O amor é uma droga pesada


Como se eu fosse velha muito velha pela milésima vez correndo essas estradas aqui barranco de terra vermelha ali capim-gordura incendiado ao sol a casa pobre bucólica só de longe o gado magro o arame farpado o vira-lata caipira e eu mulher muito velha voltando mais uma vez da viagem sem esferas com minha inútil bagagem de antigos registros sentimentais brasileiros. o amor é uma droga pesada perde-se a exata dimensão da vida e o retorno é lento, cheio de falsas visões cold turkey me quero de volta e que esses matos voltem a fazer sentido sinto falta do mundo sintetizado em sua ordem nos meus pensamentos não esse oco reverberando mandalas nos ossos do crânio não a dissolução de todas as certezas o mundo apenas sua representação me contendo me dizendo a que pertenço afinal o amor é uma droga pesada e eu uma velhíssima mulher gozando pela milésima vez a viagem infernal.

O poema que dá nome ao segundo livro de Maria Rita Kehl, editado em 1983, traz a pulsão da geração de esquerda pós 1968 e expressa, certamente, um dos máximos estéticos deste novo sentimento do mundo.

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