quinta-feira, 25 de julho de 2013

QUERO SER LIVRE


Por Telga Lima

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Na segunda tentativa de me livrar da agorafobia, crises de ansiedade e síndrome do pânico,  um problema que me aflige há algum tempo, busquei a medicina convencional, um caminho desconhecido e temeroso por mim, mas que me ajudou a passar alguns anos sem tantas angústias e os medos que me impediam de fazer coisas que são normais para os outros e que infelizmente passaram a não ser para mim. Hoje o bicho está aparentemente  domado e me parece existir um certo equilíbrio, apesar de que eu preciso estar sempre atenta para não achar que o elevador é um mostro e que ir a uma simples festa não será uma ameaça a minha vida. Sim, sofremos preconceito e somos incompreendidos, algumas vezes alvos de risinhos sarcásticos , de chacotas. Fui em frente e hoje a minha grande saga é lutar contra mim mesma, sem a ajuda da medicina, por enquanto. É lutar contra o  perigo que a minha ansiedade poderá  me causar. A questão não é simplória, nem tão pouco poderá ser tratada com banalidade por mim mesma. Preciso ter cuidados diários e redobrados buscando sempre o  bem estar verdadeiro e praticar o auto conhecimento. Preciso correr, literalmente. A ideia e que a atividade física me dê todo o suporte para o meu cérebro, além de seguir algumas regrinhas básicas para me fortalecer: Sempre  estar perto de coisas e pessoas que me façam felizes, aulas de ioga, caminhadas ao ar livro, boas leituras e risos, muitos risos, e, acima de tudo enfrentar os problemas reais, da vida real, na real, sem fantasiar, sem ilusões fugazes e ilusórias, sem subterfúgios, sem receita mágica. Eu preciso de mim mesma, preciso do outro, do amigo, do ombro. Neste processo, as pessoas podem lhe ajudar a passar por isso de forma mais leve, com mais tranquilidade.  Segundo tratamento, segundo desmame. É chegada há hora de me desvencilhar.

Separei essa matéria fantástica que foi publicada na revista Cláudia. Boa leitura e espero que tenha conseguido ajudar compartilhando esse problema, que me parece, ser tão comum.

Quando os antidrepressivos se tornam um problema

O uso abusivo de remédios contra a depressão cria a ilusão de bem-estar e um distanciamento da realidade. É aí que mora o perigo.

CRISTINA NABUCO em 27.04.2011

Em três ocasiões, a bióloga Mariana, 32 anos, separada, duas filhas, buscou refúgio nos antidepressivos. A primeira vez foi quando o psiquiatra do marido lhe receitou fluoxetina (princípio ativo de medicamentos como o Prozac). Os dois tinham uma relação difícil, ela foi ao consultório para fazer terapia de casal e saiu com a receita do remédio. "Tomei por quatro meses, me sentia bem. Mas, quando algo me irritava, a explosão era desproporcional." Na gravidez da segunda filha, enfrentou uma depressão leve, e seu obstetra lhe prescreveu cloridrato de sertralina (Zoloft). Tomou na gestação e nas primeiras semanas após o parto. "Como a nenê chorava o dia inteiro, o pediatra desconfiou que fosse irritação pela droga. Preocupada, parei de uma vez. Durante 15 dias passei mal." Mariana procurou outro psiquiatra, que prescreveu escitalopram (Lexapro). "Usei por um ano. Fiquei passiva, nada me abalava. Soube que meu marido me traía e nem reagi. Com a ajuda da psicanálise, fui percebendo que vivia de mentirinha. Estava anestesiada. Resolvi pôr um ponto final; larguei o remédio aos poucos. Quando voltei a ser eu mesma, pedi a separação. Dói, mas quero sentir essa emoção. Em vez de lidar com as dificuldades, apelava para os remédios. Chega de me iludir!"
Não se trata de um caso isolado. O aumento do uso de drogas psicotrópicas, que alteram o comportamento e o humor, a partir do advento da fluoxetina, em 1988, está gerando uma multidão de alienados, alerta o anestesiologista americano Ronald W. Dworkin. No livroFELICIDADE ARTIFICIAL (EDITORA PLANETA), ele critica a falsa sensação de felicidade proporcionada pelos remédios: "As pessoas conseguem não se sentir miseráveis mesmo quando sua vida é miserável". O autor condena a tendência de suprimir a tristeza do cotidiano. "Quanto tocamos uma chapa quente, sentimos dor e recuamos; não fosse pela dor, continuaríamos tocando a chapa. O medo e a infelicidade são igualmente protetores. Eles nos sinalizam que há algo errado." Para ele, a felicidade artificial elimina o impulso de mudança. Usar medicamentos para lidar com questões existenciais cria uma ilusão de bem-estar", diz a filósofa clínica Monica Aiub, professora do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo. "A dor não traz necessariamente crescimento, mas pode ensinar. Percebemos o que não vai bem e nos reestru turamos. Essas ações tornam-se inviáveis se a pessoa fica entorpecida."
Sem direito de sofrer
Dworkin e Monica questionam um dogma da sociedade contemporânea: a obrigação de ser feliz. Não há espaço para um dia de mau humor ou um momento de crise. O padrão é a felicidade incondicional. "As pessoas não têm mais o direito de sofrer. Então, sofrese em dobro", adverte o escritor francês Pascal Bruckner no livro A EUFORIA PERPÉTUA (ED. BER - TRAND BRASIL). De acordo com o autor, a felicidade deixou de ser um direito para se tornar um dever a partir do século 18, inversão que se consolidou no século 20, depois de 1968, quando o prazer passou a ser o principal valor da sociedade ocidental. Daí houve uma distorção no conceito de felicidade, hoje ligado a uma sucessão de episódios efêmeros de bemestar e emoções de curto prazo.Quem não corresponde à exigência de ser feliz é tido como doente. Para cada estado de espírito, confundido com sintoma, há uma solução fácil: a tristeza é aliviada com antidepressivos; a ansiedade, com tranqüilizantes. Por isso, entre 2001 e 2005 ocorreu uma explosão no consumo de psicotrópicos no Brasil, sobretudo entre mulheres, conforme pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas realizada em 108 cidades. "A mulher tem mais probabilidade de sair de um consultório com uma receita de tranqüilizante ou antidepressivo que o homem", avi sa a psiqui atra Florence Kerr Corrêa, da Faculdade de Me dicina da Unesp em Botucatu (SP). As principais usuárias têm entre 35 e 45 anos, estão insatisfeitas com o casamento, com o trabalho, com o corpo ou vivem sob tensão, diz a médica. A pedagoga Denise, 45 anos, casada, dois filhos, pode estar nessa lista: "Tomo Valium há dez anos. Sou preocupada: fico programando o dia seguinte e não consigo dormir. O remédio me ajuda a desligar, relaxar. Na escola onde trabalho, quase todas as mulheres usam algum remédio. Sei que fiquei de pendente, mas adoro tomar o tranqüilizante e desmaiar".
Prescrição excessiva
O pior é que nem os pequenos escapam. No ano passado, 1,6 milhão de crianças e ado lescentes americanos tomaram pelo menos duas drogas psiquiátricas combinadas. No Brasil, alunos com dificuldades de aprender são medicados com o polêmico metilfenidato (Ritalina), que trata o déficit de atenção e a hiperativida de. "Às vezes é necessário", diz a psicopedagoga paulista Adriane Cirelli. "A reflexão e o pensar, que pareciam inatingíveis, tornam-se possíveis. Mas há crianças apáticas devido aos remédios." Ela explica que as drogas atrapalham quando são pretexto para acomodação familiar: medicou, tudo está resolvido.
Um trabalho divulgado em abril concluiu que 25% dos ,diagnósticos de depressão estão errados. Após acompanhar 8 mil americanos, o professor Jerome Wakefield, da New York University, percebeu que uma entre quatro copessoas aparentemente deprimidas na verdade sofria de tristeza profunda decorrente de separação, desemprego ou prejuízos nos negócios. "Não dá para cair na armadilha de tratar a tristeza e banalizar o uso dos remédios", afirma o psiquiatra Leonardo Gama Filho, chefe do Serviço de Saúde Mental do Hospital Municipal Lourenço Jorge, no Rio. Eles têm efeitos colaterais: o tranqüilizante pode causar dependência física e danos à memória se não for usado com critério e por tempo determinado. Os antidepressivos engordam, provocam queda do desejo sexual, náuseas e prisão de ventre.
Segundo a psiquiatra Elisabeth Sene-Costa, autora do livro UNIVERSO DA DEPRESSÃO - HISTÓRIAS E TRATAMENTOS PELA PSIQUIATRIA E PSICODRAMA (ED. AGORA), a prescrição excessiva deve ser avaliada sob duas perspectivas: a do paciente, que, desesperado com o sofrimento, espera soluções rápidas, como num apertar de botões; e a do médico, que introduz logo o remédio por não suportar a ansiedade declarada. Com a "pílula da felicidade" a "melhora" é rápida. Mas, quando vier uma nova crise, é provável que o paciente ne cessite outra vez da "magia", sem aprender a lidar com os próprios problemas.
Olhar para si
Entender as próprias necessidades e dar prioridade ao que lhe faz bem são as sugestões da filósofa Monica Aiub para passar longe dos remédios. Invista em autoconhecimento e previna-se contra a depressão:
Converse com um amigo, alguém que não julga nem diz o que deve ser feito. Apenas ajuda a ver a situação por outro ângulo - e você toma as decisões.?
Faça psicoterapia. Você descobrirá o que a deixa triste ou ansiosa. Sabendo como funciona seu interior, mobilizará recursos para reverter o quadro.?
Controle o stress. Faça ioga, relaxamento ou meditação. Essas atividades favorecem o equilíbrio emocional e contribuem para o alívio das tensões.?
Pratique exercícios físicos. Nade, ande ou dance. Os movimentos estimulam a produção de endorfinas, mensageiros químicos que geram bem-estar.?
Drible a rotina. Tente trabalhar com prazer. Descanse, reserve momentos para conversar com a família, leia bons livros, vá mais vezes ao cinema...
Quando tomar
Luto, tristeza e irritação devem ser medicados quando a situação se arrasta indefinidamente, sinal de que pode estar sendo complicada pela depressão, informa o psiquiatra Leonardo Gama Filho. "O que vai determinar se alguém precisa ou não de tratamento é a intensidade das manifestações." Ficar arrasado porque terminou um casamento é natural. Mas, com o tempo, a pessoa tende a elaborar a perda, e a vida segue adiante. Quem está deprimido continua imobilizado: a tristeza é desproporcional e toma conta da vida, mexendo com o apetite, o sono, a memória e a capacidade de concentração. Isso é depressão, quarta causa de incapacitação, segundo a Organização Mundial da Saúde. No quadro, há ainda pessimismo, perda de prazer, sensação eterna de vazio. Nos casos mais graves, diz Gama Filho, a medicação é necessária para afastar o risco de suicídio.
Foto Carlos CubiRealização Noris MartinelliProdução Sylvia Radovar




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