terça-feira, 11 de setembro de 2012

Crédito Imagem: site ffffoun

Por Telga Lima


Meu peito está vazio hoje. O peito anda apertado. O leão está dentro da toca e os filhotes estão à solta.
Quero encolher os dedos pra dentro dos sapatos, dobrar o corpo em posição fetal como num ato de me preparar pra nascer de novo.
Acariciei os gatos do condomínio, no início da tarde, com o sol ainda quente. Aqueles pelos suaves dos rabos que me rodeavam acalmou o coração. Rabo de gato é carinho espontâneo para a minha crise existencial vinda do nada.
Senti falta dos assuntos lapidados de Virgínia, da inteligência bem humorada de Tácito Costa e dos assuntos que jogávamos fora, no tempo em que tínhamos tempo de jogar conversa fora e isso salvava as nossas vidas da mediocridade. Entre livro, café e amenidade voltávamos pra casa muito mais leves e serenos, diria renovados. Havíamos tomado nossa dose de amizade pra que começássemos a semana com boas risadas e lembranças. O que nos restava era uma tenebrosa ansiedade de nos encontrarmos novamente, quem sabe na próxima sessão de arte das 14, pra ver o filme francês da hora.   
Alimentei os gatos com a ração que costumo guardar dentro do carro, para sacá-la num momento de encontro com as minhas doces crianças felinas que se juntam a mim para se alimentar de cuidado e carinho. Dou afeto e recebo uma atenção especial que faz desse instante do dia pra mim, um dos mais importantes. É a hora que o meu espírito se aquieta de mim mesma.
Hoje o leão está sem juba. Está com os olhos baixos espreitando tudo de longe e com um certo desdém o que acontece na selva. Ele preferiu continuar lento e encostar sua cabeça sobre as suas patas cruzadas em protesto ao desespero que o faz ficar riste e atento o tempo todo.
Hoje eu só quero preguiça pra pôr as ideias em ordem e tentar ouvir o que tenho que escutar desse meu suspiro profundo que reclama. Quero continuar na toca, em silêncio.

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